Reverência e Adoração a Eucaristia
No
livro do Apocalipse, São João narra como, tendo visto e ouvido o que lhe fora
revelado, prostrava- se em adoração aos pés do Anjo de Deus (cf. Ap 22, 8).
Prostrar-se ou pôr-se de joelhos ante a majestade da presença de Deus, em
humilde adoração, era um hábito de reverência que Israel realizava sempre na
presença do Senhor. [...] Encontra-se a mesma tradição também no Novo
Testamento em que vemos ajoelhar-se diante de Jesus: Pedro (Lc 5, 8); Jairo,
para Lhe pedir que cure sua filha (Lc 8, 41); o Samaritano, quando volta para
agradecer-Lhe; e Maria, irmã de Lázaro, para pedir-Lhe o favor da vida para
seu irmão (Jo 11, 32). No livro do Apocalipse (Ap 5, 8; 5,14; 19, 4), nota-se,
em geral, a mesma atitude de prostração diante do assombro causado pela presença
e revelação divinas.
Estava
intimamente relacionada com esse costume a convicção de que o Templo Santo de
Jerusalém era a casa de Deus e, portanto, era necessário adotar nele atitudes
corporais que expressassem um profundo sentimento de humildade e reverência na
presença do Senhor.
Também
na Igreja, a convicção profunda de que o Senhor está real e verdadeiramente
presente nas Espécies Eucarísticas e o costume de conservar a Santa Comunhão
nos Tabernáculos (Sacrários) contribuíram para o hábito de se ajoelhar em
atitude de humilde adoração ao Senhor na Eucaristia . Com efeito, a respeito
da presença real de Cristo nas Espécies Eucarísticas, o Concílio de Trento
proclamou: "No augusto Sacramento da Santa Eucaristia, depois da consagração
do pão e do vinho, Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro
Homem, está presente verdadeira, real e substancialmente, sob a aparência
destas realidades sensíveis" (DS 1651) .
Além
disso, São Tomás de Aquino havia já definido a Eucaristia como latens Deitas
(Deus oculto). A Fé na presença real de Cristo nas Espécies Eucarísticas já
pertencia, então, à essência da Fé da Igreja e era parte intrínseca da
identidade católica. Claro estava que não se podia edificar a Igreja se essa Fé
fosse prejudicada, mesmo em algum ponto mínimo. Portanto, a Eucaristia, pão
transubstanciado em Corpo de Cristo, e vinho em Sangue de Cristo, Deus em meio a
nós, devia ser acolhida com admiração, máxima reverência e atitude de
humilde adoração.
Acompanhando
esta tradição, é claro que se torna coerente e indispensável adotar gestos e
atitudes do corpo e do espírito que facilitem o silêncio, o recolhimento, a
humilde aceitação de nossa pobreza diante da infinita grandeza e santidade
dAquele que vem ao nosso encontro nas Espécies Eucarísticas. O melhor modo de
exprimir nosso sentimento de reverência para com o Senhor Eucarístico é o de
seguir o exemplo de Pedro que, como narra o Evangelho, lançou-se de joelhos
ante o Senhor e disse: "Afasta-Te de mim, Senhor, porque sou um
pecador!" (Lc 5, 8).
Ora,
nota-se como em algumas igrejas esse costume torna-se cada vez mais raro, e os
responsáveis não só impõem aos fiéis receber em pé a Sagrada Eucaristia,
mas, inclusive, tiraram todos os genuflexórios, obrigando os fiéis a
permanecer sentados ou em pé, até mesmo durante a elevação das Espécies
Eucarísticas, apresentadas para a adoração. É estranho que tais providências
tenham sido tomadas pelos responsáveis da liturgia nas dioceses, ou pelos párocos,
nas igrejas, sem qualquer consulta aos fiéis, embora hoje se fale mais do que
nunca, em certos ambientes, de democracia na Igreja.
Ao
mesmo tempo, falando da Comunhão na mão, é necessário reconhecer que se
trata de um costume introduzido abusiva e apressadamente em alguns ambientes da
Igreja logo após o Concílio, alterando o secular costume anterior e
tornando-se, em seguida, prática regular em toda a Igreja. Justificava-se essa
mudança argumentando que ela refletia melhor o Evangelho ou a prática antiga
da Igreja. É verdade que se alguém recebe a Comunhão na língua pode também
recebê-la na mão, sendo esses órgãos do corpo de igual dignidade.
Alguns,
para justificar tal prática, recorrem às palavras de Jesus: "Tomai e
comei" (Mc 14, 22; Mt 26, 26). Quaisquer que sejam as razões para
sustentar esse costume, não podemos ignorar o que acontece, em nível mundial,
onde ele é adotado. Ele contribui para um gradual e crescente enfraquecimento
da atitude de reverência para com as sagradas Espécies Eucarísticas. O
costume anterior, pelo contrário, preservava melhor este senso de reverência.
Seguiram-se
uma alarmante falta de recolhimento e um espírito de generalizada distração.
Vêem-se, agora, comungantes que freqüentemente voltam aos seus lugares como se
nada de extraordinário tivesse acontecido. Ainda mais distraídos se mostram as
crianças e os adolescentes. Em muitos casos não se nota aquele senso de
seriedade e silêncio interior que devem indicar a presença de Deus na alma.
O
Papa Bento XVI fala da necessidade, não só de entender o verdadeiro e profundo
significado da Eucaristia, mas também de celebrá-La com dignidade e reverência.
Diz que é necessário estar consciente "dos gestos e posições, como
ajoelhar- se durante os momentos salientes da Oração Eucarística"
(Sacramentum Caritatis, 65). Além disso, tratando do recebimento da Sagrada
Comunhão, convida todos a "fazer o possível para que o gesto, na sua
simplicidade, corresponda ao seu valor de encontro pessoal com o Senhor Jesus
Cristo no Sacramento" (Sacramentum Caritatis, 50).
Creio que chegou a hora de avaliar a prática acima mencionada, de reconsiderá-la e, se necessário, abandonar a atual, que de fato não foi indicada nem pela Sacrosanctum Concilium nem pelos Padres Conciliares, mas foi aceita depois de sua introdução abusiva em alguns países. Hoje, mais do que nunca é necessário ajudar os fiéis a renovar uma Fé viva na presença real de Cristo nas Espécies Eucarísticas, para reforçar a própria vida da Igreja e defendê-la em meio às perigosas distorções da Fé que tal situação continua causando.